domingo, 22 de maio de 2016

A Misteriosa Pedra da Gávea no Rio de janeiro



Eis como se apresenta a chamada inscrição no paredão leste, constituída basicamente de buracos predominantemente verticais. Note-se que, embaixo há uma segunda linha de buracos. Essa ninguém quis traduzir? E se quiserem, existe uma meia linha mais, em terceira posição. Perceba-se que mais embaixo seguem caneluras verticais, isto quer dizer que todas estas marcas fazem parte do mesmo processo erosivo. Estes buracos são de diversas profundidades e com muitas bordas onduladas, portanto, difícil de definir onde começa ou acaba a ”letra”. Observe-se também que a ”inscrição” vai subindo para a direita.

Introdução

A intenção deste texto é arejar um pouco o clima em torno do enigma da Pedra da Gávea, na cidade do Rio de Janeiro, especulando discretamente sobre alguns aspectos e procurando indicar outros caminhos. Evidentemente, sem as visões delirantes sobre o assunto.

O problema sobre a incógnita da Pedra da Gávea está mal explicado faz muito tempo. Em parte, por falta de pesquisa bibliográfica e de campo. Faço estas análises e observações porque tenho certeza de que, recuperando e desmistificando a história irresponsável que se conta sobre esta montanha, será mais fácil ajudar na sua preservação como patrimônio paisagístico, monumental e histórico.

E o que aconteceu até agora foi apenas sua desmoralização e uso comercial. As próprias tentativas de preservação até agora não trouxeram muitos resultados. Queiram ou não, esta montanha é um dos maiores monumentos do Rio de Janeiro. E não tem tido a atenção que seria merecida, pois foi usada de maneira desconsiderada para fazer sensacionalismo. O que lançou sobre o assunto um clima de falta de seriedade.

Para confundir mais as coisas há vários elementos que, se analisados separadamente, podem ser falsos ou verdadeiros. Mas, quando associados formam um quadro que suscita muitas versões. É preciso, portanto, analisar individualmente cada um para se chegar a alguma hipótese que possa indicar caminhos de pesquisa e, eventualmente, relacioná-los entre si.

No local, temos uma aparente inscrição; um possível portal monumental e, com certeza, uma face esculpida numa gigantesca cabeça de pedra. Além disso, temos também alguns outros detalhes que não vou abordar aqui para não ampliar demais o enfoque. É preciso separar as coisas, pois, se um elemento não é verdadeiro, isso não implica em que os outros sejam também falsos.


Lendas em torno da Pedra da Gávea

Ao longo dos anos foi feita uma salada com o assunto, na qual, já não se distingue mais o que é fato real; o que tem algum valor para pesquisa; e o que foi inventado por pura irresponsabilidade, sensacionalismo ou interesses.

Quem acha que todos os elementos são apenas frutos da erosão, não precisa pensar mais, porque sempre vai prevalecer essa ideia, principalmente, para quem não conhece o local. Com certeza, não há o que discutir com quem pensa assim, pois, mesmo conhecendo o local é difícil entendê-lo.

A maioria das pessoas não se interessa por pesquisas, pois prefere versões sensacionalistas e sem bases. Consequentemente, para muitos, o fato de se pesquisar a Pedra da Gávea é um assunto irrelevante ou até inconveniente.

Durante muitos anos estive mastigando a versão dos fenícios na Pedra da Gávea, sem poder engolir, porque, quando cheguei conhecer um pouco a cultura púnica percebi que não era a versão apropriada. Posso assegurar que a maioria dos sites na internet está difundindo histórias fantasiosas e sem fundamento como sendo um verdadeiro folclore do Rio de Janeiro.

O pior é que, um site repete o que o outro publica, inclusive, com erros em datas e outras informações básicas. Pior ainda, são os relatos fantasiosos e exagerados de aviões e pessoas desaparecidas no local. E temos ainda os que, descaradamente, apontam o local como base de discos voadores, sem nenhum compromisso com a lógica, e outras hipóteses sem fundamento algum. Ou então, atribuem tudo a uma “Solução Atlântida” que, em conjunto com os extraterrestres, explicaria o inexplicável, explorando a fantasia, o sensacionalismo e deformando ainda mais o imaginário carioca. Sepultando assim, cada vez mais, uma apreciação sóbria do que possa ter acontecido nesse local.


Esta é a cópia da inscrição, segundo a visão de binóculos feita pela Comissão, em 1833; sim, porque

só é possível “lê-la” de binóculos. Os fenícios não tinham binóculos, portanto nunca fariam uma inscrição,

ilegível à distância, e só perceptível em baixo, apesar de as marcas ter aproximadamente três metros de altura.

A ‘inscrição’ e a tradução

Não teria nenhuma lógica fazer uma inscrição torta, porque para fazer qualquer trabalho de desgaste da rocha ali teria que se utilizar um andaime, ou pênsil, ou escorado no chão. Naquela altura do paredão, teria que se usar pênsil, mas um andaime pênsil inclinado não teria sentido, seria irracional.

Mas para quem ainda tiver dúvidas, vá até lá. Do lado esquerdo, descendo para a Gruta da Orelha, poderá ver alguns detalhes desses buracos. E não tenha medo de não ser um erudito em línguas mortas, use apenas seu bom senso.

Se alguém pretende achar vestígios fenícios no Brasil, primeiramente tem que parar de aceitar histórias da carochinha como verdades. A história das ânforas achadas na Baía de Guanabara foi uma delas, que continua a ser divulgada. Havia ânforas, sim, mas eram modernas. Se havia ânforas quase certamente haveria um navio, e onde está o navio? Ou vieram voando? Porque essa “pesquisa” não continuou?

Esta cópia da “inscrição” com certeza vem desde a antiga fazenda São José da Alagoinha da Gávea, a atual Villa Riso. A fazenda já se relacionava com o governo e instituições oficiais desde longa data e, posteriormente, passou à propriedade do conselheiro Ferreira Vianna.

Esta foi a cópia que Bernardo de Azevedo da Silva Ramos usou para fazer sua tradução, sem, no entanto, nunca ter chegado perto do paredão das inscrições. Sua “tradução” foi feita em 1928, ou seja, 95 anos depois, baseando-se numa interpretação feita sem precisão alguma, como se pode ver claramente comparando a foto com a cópia.

Coincidentemente, quatro anos antes o professor Henrique José de Souza fundou a Daharana, a primeira loja Teosófica, em 1924. E, então, quatro anos depois, Bernardo de Azevedo da Silva Ramos, então com 70 anos, fez a dita tradução.

Parece - e tenho quase certeza - que os dois fatos têm alguma relação. Inclusive, o professor Souza chegou a modificar a tradução de Bernardo Ramos, dizendo que Jetball era o filho de Badezir (e não ao contrário) e que este tinha uma irmã gêmea chamada Jetbal-bel. É claro que na falta de base para criar estas lendas, usaram o que tinha a mão: a Bíblia. E como sabiam que existiu uma irmã de Badezir chamada Jezabel, casada com o rei Achab de Israel, possivelmente, completaram o nome.

Como pode o professor Henrique Jose de Souza pretender melhorar e corrigir a fantasiosa tradução de Bernardo de Azevedo da Silva Ramos?

Está claro que havia um objetivo a ser atingido a todo custo. Usaram a montanha em beneficio próprio pela primeira vez. Pelo menos, é o que parece.

Compare as inscrições verídicas fenícias com os buracos da chamada “Inscrição da Gávea”. Para quem acha que algum pedreiro fenício fez esta inscrição na Pedra da Gávea, diria que esse pedreiro e seu supervisor não deviam ser muito versados em lavratura de pedra, nem deviam saber fazer um andaime reto. Aquilo nunca foi nem poderia ter sido um trabalho de fenícios do século IX a.C. Quem assim mesmo acha que os fenícios fizeram uma inscrição, conhece muito pouco dos fenícios e isto é regra quase geral na população.

Portanto, qualquer história que fosse contada sobre a Pedra da Gávea seria engolida facilmente pela maioria do público. E se essa versão viesse apoiada em um pesquisador conhecido, além de apoiada e encomendada por uma seita mística e espiritualista como a Sociedade Teosófica Brasileira - como foi -, a aceitação seria quase total, ao menos junto à população menos instruída.

Foi isso o que aconteceu. E agora, o Rio de Janeiro tem uma lenda importada para contar um fato que, provavelmente, terá raízes puramente sul-americanas.

Anos atrás, discordar dessa versão seria como contestar a Bíblia e, ainda mais, se por trás do assunto estavam dois nomes respeitados. Mas todos podem errar. Já é tempo de procurar outras versões para esta montanha. Na verdade, esta versão nunca convenceu nenhum pesquisador científico sério, nem a ciência oficial. Pior, contribuiu para dar um clima de chacota ao local. O que, no mínimo, é uma infâmia. Repetir essas versões na internet é um mau serviço que se faz.

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